A ideia do The Next Big Idea nasceu em contexto universitário enquanto eu e o Paulo Rascão, os dois autores do projeto, desenvolvíamos conteúdos em vídeo para a primeira edição do The Lisbon MBA, o curso que juntou a Nova SBE e a Católica Lisbon numa primeira formação conjunta.

O desafio que nos foi lançado passava por criar uma plataforma de conteúdos em vídeo que mostrasse os projetos e a formação que era ministrada àqueles primeiros alunos, em 2009. Tudo o que produzimos nesse ano levou-nos para um ambiente diferente do que existia retratado nos jornais, revistas e televisões, num tempo em que a inovação era propriedade das grandes empresas do PSI20 e pouco mais. Isto ao mesmo tempo que vivíamos o ano pós-crise financeira de 2008 e pré-crise económica de Portugal e da Europa de 2010/11.

Tivemos na altura a convicção que podia estar a nascer uma economia diferente em Portugal, assente no conhecimento, em ideias novas e numa menor dependência das regras que tinham orientado várias gerações até aí. Para quem viveu os anos 90, e que conviveu de perto com a geração de jovens universitários que então saíam das universidades, não podia senão soar a algo novo o entusiasmo que se sentia em iniciar projetos novos, do zero, em detrimento de ambicionar um lugar numa grande empresa.

Não seria por acaso que a própria responsável do MBA, Belén de Vicente, se tornaria, poucos anos depois, fundadora de um projeto próprio na área da saúde, a Medical Port.

Foi esse o ponto de partida que levou dois jornalistas com experiência de imprensa a imaginarem um projeto de informação focado na inovação – também a começar do zero.

Não éramos uma startup – continuamos a não ser –, não estávamos à procura de emprego, mas estávamos com aquele nervoso miudinho que acontece quando uma ideia não nos sai da cabeça.

Nos anos que se seguiram conhecemos muitas startups e conhecemos ainda mais pessoas que fizeram empresas porque precisavam de criar o seu emprego. Em 10 anos, foi muito por causa de uns e de outros que nasceram coisas novas em Portugal.

A dupla condição de contar a história da inovação ao mesmo tempo que se faz parte dessa mesma história permitiu-nos conhecer na pele o que significa criar de raiz um projeto e conseguir que seja viável. Chegámos a 2022 com uma marca e um projeto que começou como um programa de televisão e se tornou numa plataforma que agrega conteúdos, eventos e serviços com uma audiência potencial de centenas de milhares de pessoas que lideram empresas, são profissionais das indústrias do conhecimento e das indústrias criativas ou decisores públicos.

A primeira aprendizagem foi, por isso, sobre o que significa fazer um projeto do zero.

Ouvimos muitas vezes nestes 10 anos que “na América” falhar é currículo enquanto em Portugal é cadastro. Continua a ser verdade e se tivermos dúvidas basta fazer o exercício de pensarmos em quantos empresários contam o que correu mal (a não ser quando a seguir algo correu extraordinariamente bem).

Se isto acontece com os nomes mais mediáticos, imaginem à escala das centenas de milhares de pequenas e médias empresas onde, em regra, correm muitas coisas mal para que alguma corra bem. Com a ironia suprema de, em Portugal, a maior parte dos donos de empresas estar longe de ser rico e poder ficar mais facilmente numa situação de precariedade do que quem tem um emprego.

As empresas em Portugal arrancam, em regra, com pouco dinheiro ou mesmo sem dinheiro, pagam impostos desde que começam a respirar e debatem-se, nos anos que vivemos, com uma mudança geracional que demora a concretizar-se. A boa notícia é que essa mudança, lenta, está e vai continuar a acontecer, começando por uma cultura de gestão diferente, mais informada, e também menos agrilhoada às limitações que no passado enfrentava quem fazia empresas em Portugal (porque já foi pior, com menos mundo e menos cidadania empresarial).

Enquanto a mudança vai acontecendo, socialmente precisamos de falar mais sobre as empresas e sobre a realidade de quem as faz.

Segundo dados da Pordata, em 2020, ano de arranque da pandemia, existiam em Portugal 1.316.256 empresas e só menos de 1% eram grandes empresas. O que deixa 99% nas mãos de PME, pequenos e médios empresários, muitos deles em auto-emprego e todos eles com uma tarefa comum que é a de garantir que a cada mês aquilo que a empresa fatura paga os ordenados de quem emprega, incluído o seu. Não é coisa pouca e soma-se a necessidade constante de se manterem úteis no mercado – sob pena de desaparecerem.

Sobre as startups, há um número pequeno que é enorme à escala da realidade do mundo atual: Portugal tem 5 unicórnios (7 se contarmos duas não fundadas em Portugal, a Anchorage e a Remote, mas com fundadores portugueses), a Irlanda tem 3, a Dinamarca tem 2, a Polónia tem 1.

No mercado global da tecnologia, estamos a conseguir com as nossas tecnológicas competir bem acima das possibilidades da nossa economia como um todo. E, se olharmos para quem as fundou, temos gente nova – não é mais do mesmo.

Num país estagnado no crescimento, com salários médios medíocres, vale a pena alguma reflexão sobre como é que estamos neste patamar. E é útil procurar saber que lições podemos retirar, não apenas para termos mais empresas avaliadas em mais de mil milhões de euros (voltaremos ao tema dos unicórnios numa próxima semana), mas para sabermos o que podemos aprender com as empresas que numa década se colocaram no mapa mundo mais competitivo que existe.

Em 10 anos, Portugal não ficou a gostar mais das empresas ou dos empresários, mas as empresas e os empresários são hoje diferentes. A palavra empreendedores pode ter ficado agarrada a muita coisa que nada tem a ver com o verdadeiro valor de quem cria algo de novo, mas seria bom se a história desta década servisse para uma reconciliação não com o passado mas com o futuro – e será difícil que não passe por mais e melhores empresas, das quais algumas serão startups.