É oficial: Cedi à pressão
Passei a última semana a ver “Friends” de forma intensiva e mal posso esperar por te contar o que é que achei. Mas antes de lá irmos, muitos devem estar a perguntar-se porque é que, uma newsletter que todas as semanas vos recomenda conteúdos que vos possam ter passado ao lado, decidiu falar de uma série tão badalada. Ora, o melhor é mesmo começar pelo princípio e dar-te uma breve explicação.
Eu acredito que há várias coisas que nos levam a ver séries e filmes. Pode ser porque o teaser nos chamou a atenção, porque tem um ator de que nós gostamos, ou até mesmo porque nos recomendaram. Mas também acho que há várias razões que nos levam a não ver, e estas duas categorias até têm alguns pontos em comum. Passei mais de 20 anos da minha vida sem ver “Friends”. Não de forma propositada, mas porque acho que esta febre me passou ao lado (na altura ainda não havia Acho Que Vais Gostar Disto para me recomendar séries e filmes).
Numa espécie de movimento que unia Millennials e Gen Z, fui atingida por uma onda de cultura pop onde me senti como um E.T. na Terra. Mas será que todos levaram o briefing de que era obrigatório ver “Friends” para viver neste planeta menos eu?! Era camisolas com as letras e os pontinhos coloridos, era vídeos partilhados nas redes sociais, era ouvir de vez em quando a típica frase “Ai, tu és mesmo Monica!”. De repente, este grupo de amigos saído de uma série criada por David Crane e Marta Kauffman em 1994 parecia estar em todo o lado e, aparentemente, eu era a única que não os conhecia.
Ouve aqui o episódio do podcast Acho Que Vais Gostar Disto dedicado a Friends:
Seguiu-se depois uma crise de embirração na qual o meu objetivo era remar contra a maré. Sem qualquer motivo ou precedente que justificasse, decidi que não ia ceder. Pelo meio, houve uma curiosidade de ir espreitar uns minutinhos de um episódio, mas recusei-me sempre a bater as palmas no genérico ou a rir quando os back laughs (risos de fundo) apareciam. Estava predestinado que, visse eu aquilo que visse, a minha review seria sempre “Friends?! Isso nem é assim tão bom”.
Achava eu que a febre estava a passar (até porque entretanto foram surgindo novas séries que obrigaram a cultura pop a dividir as suas atenções) e eis que surge a novidade: vai haver uma reunion de “Friends”. Instalou-se o caos novamente. Ninguém fala de outra coisa e eles voltaram a estar em todo o lado, como se o último episódio tivesse ido para o ar antes de ontem, e não em maio de 2004. Fotos no Instagram causaram histeria generalizada e o trailer quase fez o mundo parar. A poucos dias da estreia, penso até se esta não será a solução para todos os problemas do mundo.
Mas estava na minha hora de dar o braço a torcer e perceber porque é que havia tanto hype à volta de uma série que tem tantos episódios e temporadas e que muitos dizem já ter visto e revisto na íntegra (o que me parece impossível). Há uns dias, abri a HBO, dei play no primeiro episódio da primeira temporada e obriguei-me a ver o máximo de episódios que conseguisse da produção que conquistou o mundo. Desta vez, não ia desistir à primeira oportunidade (e acreditem que nem sempre foi fácil continuar a ver). Entretanto já vou na segunda temporada e tenho alguns pontos para partilhar convosco:
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É importante perceber que esta não é mais uma série sobre seis amigos. Esta é A série sobre um grupo de amigos. Foi das primeiras sitcomsdeste género a fazer muito sucesso e inspirou outras semelhantes que se seguiram (“How I Met Your Mother”, “The Big Bang Theory”, etc.).
- Ninguém me consegue convencer de que esta série, se saísse em 2021, não seria muito diferente. Nem sei se atingiria o sucesso que atingiu. E caso não fosse diferente, seria muito problemática, cancelada pelo Twitter a cada episódio transmitido e, provavelmente, não passaria da primeira temporada. Mas, mesmo que, tal como eu, só estejas a ver agora estes episódios e te perguntes “Mas como é que isto foi aprovado?!”, é importante perceberes o contexto em que saiu. Ao fim ao cabo, já passaram 27 anos desde que os primeiros episódios saíram, e na altura a mentalidade era muito diferente, assim como o papel de responsabilidade social atribuído a séries e filmes.
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Mais importante do que decidir se esta é ou não a melhor série deste género, é engraçado tentar perceber porque é que muitos assim a consideram. Se eu tivesse de apostar, diria que o segredo está no conforto. A verdade é que o enredo de “Friends” não nos deixa de coração nas mãos a cada minuto que passa e, tal como na vida real, o seu dia a dia também é aborrecido e o final dos episódios traz sempre a certeza de um quentinho no coração. Há dias em que precisamos disto.
Ainda que Monica, Rachel, Phoebe, Chandler, Joey e Ross tenham conquistado um lugar cativo no coração da audiência, a verdade é que todos eles têm traços de personalidade que adoramos ou odiamos. Com base nos vinte e tal episódios que já vi, é assim que descreveria as principais personagens. Isto não é um roast, mas aviso já que também não vale dizer “Ah, não, mas na sexta temporada essa personagem muda e fica mesmo fixe”:
- Monica: é uma maníaca mandona com medo de compromissos que precisa de estar constantemente no controlo daquilo que está a acontecer à sua volta, mas que tem traumas profundos com a falta de aprovação;
- Ross: é um choninhas, um autêntico people pleaser, que está habituado a que todos gostem dele e que está disposto a fazer tudo por amor;
- Rachel: encarna a típica personalidade “Não sei estrelar um ovo”. Não tem qualquer espírito de sobrevivência e noção daquilo que ser adulta e independente implica. Para completar o pacote, é altamente dependente do sexo masculino e parece achar que ser comprometida é um traço de personalidade;
- Joey: vive à altura do estereótipo de macho latino. É ator e acha que não existe nenhuma mulher à face da Terra que não o deseje. Ainda assim, consegue não ser a personagem de que menos gostei;
- Phoebe: é certamente a origem dos quirky memes que vemos hoje em dia no TikTok. É a diferentona do grupo, aquela que acha que tudo o que acontece é porque tem ascendente em unicórnio e que a sorte está nos cristais. Está algures entre engraçada e tontinha;
- Chandler: foi a personagem que me deixou de sangue a ferver. É aquele amigo com uma masculinidade frágil e com o cérebro do tamanho de uma ervilha que está constantemente a fazer comentários desnecessários porque acha que mete piada. Enough is enough, Chandler!!
Resumindo e concluindo: É a melhor série de sempre? Não acho, não entrou para a minha lista de eleição (mas prometo que vou continuar a ver). Mas também não é uma série má (aliás, já vi muito pior). Só acho que não vive à altura do hype, mas isso pode ser culpa de todas as pessoas que me disseram que a minha vida ia mudar depois de ver pela primeira vez o genérico com a música “I’ll Be There For You”.
Dito isto, se eu recomendo? Sim. Se, tal como eu, ainda não viste “Friends” ou ainda não dedicaste muito tempo e atenção à série, esta newsletter serve de recomendação. Nem que seja para não ficares de fora na discussão sempre que o teu grupo de amigos estiver a tentar decidir quem é quem.
Temos uma novidade para ti!
Isto é tudo muito bonito, ver “Friends” em modo maratona, dar a minha opinião (ainda que seja ligeiramente diferente do consensual), dizer o que gosto e não gosto. Mas na próxima quinta-feira, dia 27 de maio, eles estão de volta e está na hora de chamar quem realmente conhece este grupo de amigos como a palma da mão para falar sobre o assunto.
No dia seguinte (sexta-feira, 28 de maio), eu e o Miguel Magalhães vamos estar à conversa com o João Dinis, a Luísa Barbosa e o Pedro Silva sobre a série e sobre o seu regresso que vai estrear na HBO Portugal. Imaginem isto como uma espécie de episódio-piloto do podcast “Acho Que Vais Gostar Disto”.
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Créditos Finais
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O regresso dos ladrões mais famosos: Já há novidades sobre a quinta temporada de “La Casa de Papel”. Dividida em duas partes, a primeira chega à Netflix em setembro e a segunda em dezembro. Para abrir o apetite, também já foi divulgado o teaser. Espreita aqui!
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A nova obsessão da internet: Sábado à noite foi a Eurovisão 2021. A Itália saiu vencedora com uma atuação da banda Måneskin. Vê aqui a sua performance.
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Outras coisas que andei a ver entretanto: “The Crime of The Century” na HBO e a nova temporada de “Master of None” na Netflix.
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